Desde que homem é homem ele é perseguido pela necessidade de pensar, esse é o
fator primordial pra proliferação de dúvidas e perguntas relacionadas aos
múltiplos caminhos e desfechos que a vida tem a oferecer.
Se pararmos apenas alguns
minutos e viajarmos em nosso cérebro, com ajuda de algumas ferramentas como
audição, visão, olfato, tato e paladar, podemos resgatar lembranças incríveis
que por castigo do destino muitas vezes foram supostamente
apagadas.
Esses dias, em uma dessas
minhas viagens mentais comecei a me auto avaliar de como eu era antes e como
estou hoje, as mudanças foram notórias, as sequelas também. Me lembro como se
fosse hoje, por volta de 96 ou 97 sei lá, pra não dizer que fui isento a única
coisa que me preocupava era a escola, ginásio pra alguns ou ensino fundamental
pra outros, tinha beijos na boca no verdade e desafio e as estúpidas
brincadeiras com compasso, em casa a comida estava na mesa, o videogame
prontinho pra ser devorado, mais tarde vinha o vídeo show, vale a pena ver de
novo e o futebolzinho sagrado de fim de tarde.
A presença de pessoas especiais
era de grande peso no meu dia a dia, pais, primos, amigos, tios e até os
cachorrinhos da época que o tempo não poupou. As tardes de domingo eram
fantásticas, com direito aos programas de paradão sertanejo, frango e
macarronada no almoço, além das velhas visitinhas na casa da vovó que vinham
acompanhadas pelas artes realizadas por mim e meus primos. "Era tudo tão
perfeito! Se tudo fosse só isso!”.
A ignorância era tamanha, mas
adorava possuí-la, pois foi a ausência da mesma que me trouxe uma das virtudes
mais perigosas que existe, a tal da curiosidade. A necessidade de questionar as
coisas abriu uma porta que eu não estava preparado pra entrar, mas foi normal se
comparado com o fluxo natural da vida.
O fim da adolescência e a
chegada da "adultez inexperiente" vieram acompanhadas por coisas temíveis como:
trabalho, responsabilidade, ebriedade, maldade, sexualidade, sensibilidade,
comunicação, vícios em coisas eletrônicas, religião, rotina e a perda. Já estava
quase me acostumando com essa vidinha de rapazinho civilizado ou se preferir
alcoólatra de final de semana, rebelde sem causa, filho de papai, enfim, as
hipérboles são várias, mas a realidade foi uma só. Sexta-feira, era pra ser mais
um dia de bebedeira, mas não foi, fiquei sabendo que meu pai tinha "ido embora",
por quê? As coisas estavam tão boas! Eram perguntas em cima de perguntas e
respostas sem explicações.
A chegada de falsos amigos,
afloração de bons e velhos parceiros de caminhada e a falta do aconchego paterno
me acarretaram mil e uma desgraças psicológicas, morais e espirituais. Será que
Deus tira as coisas da gente pra nos punir ou pra martirizar quem se foi? Quando
eu morrer vou reencontrá-lo ou ficar a ver navios? Sim, tudo passa, exceto o
furo da bala, tudo que pude fazer eu fiz, ou seja, guardei as
dúvidas.
Graças a Deus tudo voltou ao
normal, casa nova, negócios em alta, carro novo, time ganhando, vida sexual
ativa, diploma, praia, churrasco e velhos amigos escolhidos a dedo, calma,
quando as coisas estão muito boas é sinal que algo vai
apodrecer.
Era um domingo desses de dor de
cabeça e nada como uma nova ressaca pra curar outra ressaca, sustentando nosso
vício de truco online pré-churrasco eu e o Gordo tivemos a companhia de uma
borboleta junto ao quarto, um terceiro pergunta: Vocês acreditam que quando uma
mariposa entra dentro de casa é a morte chegando? Respondi com uma risada
agressiva.
A tal da morte não chegou, pelo
menos até o próximo domingo quando fui acordado de forma violenta sendo
informado que o Gordo também tinha me abandonado.
Não, isso não é uma dissertação
de respostas nem um desabafo generalizado e muito menos um relato concreto de
superstições sobre borboletas. Trata-se apenas de uma breve explicação do
primeiro parágrafo. O ato de pensar é necessário, pensar demais causa problemas
mentais e geram dúvidas, dúvidas geram incertezas, incertezas geram ansiedade
seguidas de insônia ai vocês já sabem no que dá. Declare guerra aos seus
pensamentos, desfrute dele de uma forma saudável, mas não vire escravo do mesmo.
Não faça como eu, não queira entender as coisas da natureza, perguntas demais
têm respostas abstratas. Porque as coisas mudam?